Dados do Ministério da Saúde revelam que uma a cada dez brasileiras tem endometriose, doença inflamatória que atinge o tecido do útero (endométrio), mas que frequentemente se expande para os ovários, a bexiga, o intestino e outros órgãos. O diagnóstico não é fácil e o tratamento pode ser medicamentoso, cirúrgico ou combinado.
Lesões maiores, em geral, são retiradas cirurgicamente. Além da cirurgia convencional (aberta) e laparoscópica, existe a possibilidade de uso da tecnologia robótica que, na Bahia, está disponível há cerca de um ano e meio, com demanda crescente, devido a seus benefícios agregados. Um dos diferenciais do tratamento cirúrgico da endometriose é a atuação de equipes multidisciplinares, já que a doença afeta diferentes sistemas do corpo humano.
A troca de conhecimento e experiência entre especialidades aumenta a chance de remoção total do tecido doente, sem prejudicar o funcionamento normal dos órgãos acometidos pela inflamação. Segundo o coordenador do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), Nilo Jorge Leão, a paciente com endometriose, geralmente, sofre muito devido à demora da descoberta da doença.
“O adequado diagnóstico da endometriose carece de profissionais bem preparados. A partir da confirmação da doença, é importante que ela seja tratada de modo multidisciplinar por uma equipe experiente, a fim de receber um tratamento integral completo”, afirmou. Neste contexto, o tratamento da endometriose requer a atuação de diferentes especialistas antes mesmo da cirurgia. “Tudo começa com a avaliação precisa de um ginecologista que solicita exames para fechar o diagnóstico como ultrassom e ressonância magnética. Depois, a paciente passa pela avaliação do coloproctologista e do urologista. Atuando juntos, esses profissionais ampliam a segurança e a chance de sucesso do tratamento”, resumiu o cirurgião urologista.
Cada especialista cuida de uma área específica durante o ato cirúrgico. O cirurgião ginecológico se responsabiliza pelo tratamento dos órgãos do sistema ginecológico; o coloproctologista trata as endometrioses que afetam o intestino enquanto o urologista se concentra na parte da doença que atinge a bexiga, os ureteres e outros órgão do sistema urinário. “Quando segmentamos a cirurgia em partes, otimizamos o tempo cirúrgico e obtemos melhores resultados no que tange à recuperação da paciente”, destacou o diretor do núcleo de coloproctologia do IBCR, Ramon Mendes.
Robô em ação – Associar a experiência de profissionais de diferentes áreas aos benefícios da Cirurgia Robótica – tais como a visão tridimensional ampliada em 10 vezes, melhores ergonomia e precisão dos movimentos dos cirurgiões, redução dos sangramentos, menos dor no pós-operatório e menor tempo de retorno da paciente para casa – aumenta a chance de sucesso do tratamento da endometriose. Por esta razão, cada vez mais baianas estão optando por esta modalidade cirúrgica.
Em um recente balanço dos procedimentos realizados apenas pelos cinco médicos que integram o IBCR, chegou-se a um total de 214 cirurgias realizadas com o auxílio do robô desde que ele chegou aos Hospitais São Rafael e Santa Izabel. Embora a maior parte desses procedimentos (um total de 155) tenham sido coordenados pela urologia, especialidade que mais utiliza o sistema robótico em todo o mundo, o uso da tecnologia por ginecologistas e outras especialidades cresce a cada dia.
Saúde restaurada – Parte do resultado positivo da cirurgia robótica da nutricionista e estudante de pedagogia Maria Helena da Mata Mendes, 35, realizada no último dia 4, deve-se tanto à escolha da robótica como modalidade cirúrgica minimamente invasiva quanto à multidisciplinaridade. Há seis anos, a paciente passou por uma videolaparoscopia para tratamento da endometriose.
Contudo, como voltou a sentir muitas dores e desconforto, recentemente procurou outros especialistas que acabaram confirmando que todo seu mal estar era decorrente da endometriose profunda. Para tratá-la, a equipe do IBCR identificou que a melhor alternativa para o caso dela seria a cirurgia robótica, que foi realizada no Hospital São Rafael.
Os médicos que a operaram, o ginecologista Marcos Travessa, o coloproctologista Ramon Mendes e o urologista Nilo Jorge Leão trabalharam juntos para devolver à paciente “a alegria de viver”, conforme ela mesma declarou. “Não senti nenhuma dor no pós-operatório e o atendimento que recebi de todos os especialistas envolvidos foi maravilhoso. Estou recuperada e me sinto muito bem”, frisou. Tanto o útero quanto os ovários de Maria Helena foram preservados para uma possível gestação futura.
Sobre a endometriose – A doença é provocada por células do tecido do útero que, ao invés de serem expelidas durante a menstruação, se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde multiplicam-se, causando sangramentos. Os principais sintomas são dores em forma de cólica durante o período menstrual, que podem incapacitar as mulheres de exercerem suas atividades habituais; dor durante as relações sexuais; dor e sangramento intestinais e urinários durante a menstruação; e dificuldade de engravidar (a infertilidade está presente em cerca de 40% das mulheres com endometriose).
O exame ginecológico clínico é o primeiro passo para o diagnóstico, que pode ser confirmado pelos seguintes exames laboratoriais e de imagem: laparoscopia, ultrassom, ressonância magnética e um exame de sangue chamado marcador tumoral CA-125, que se altera nos casos mais avançados da doença. O diagnóstico de certeza, porém, depende da realização de biópsia.
A endometriose é uma doença crônica que regride espontaneamente com a menopausa, em razão da queda na produção dos hormônios femininos e fim das menstruações. Mulheres mais jovens podem utilizar medicamentos que suspendem a menstruação. Quando a mulher já teve os filhos que desejava, a remoção dos ovários e do útero pode ser uma alternativa de tratamento.