A pandemia trouxe grande impacto na saúde em todo o mundo. O medo da contaminação pela Covid-19 tem afastado mulheres das consultas ginecológicas periódicas. Mas por trás da segurança do isolamento social contra o coronavírus, existe a ameaça silenciosa de outra doença: o câncer, como alerta o cirurgião oncológico André Bouzas.
“A pandemia trouxe diversas mudanças nos cenários de saúde, como a superlotação dos prontos-socorros e leitos de hospitais por pacientes com covid, e despertou receio na população de sair de casa para uma consulta médica devido a sintomas extra-covid, ou mesmo para consultas de rotina que são extremamente necessárias”, explica o médico.
O rastreamento e a detecção precoce do câncer são estratégias importantes para a identificação de tumores em fases iniciais, permitindo o uso de tratamentos menos invasivos com melhores chances de sucesso e cura. Foi justamente num exame de rotina que a funcionária pública aposentada Maria Brito, de 67 anos, teve a chance de descobrir a doença na fase inicial.
“Eu não tinha sintoma algum, mesmo assim fui surpreendida com um carcinoma de células claras do ovário estádio I. Minha médica conduziu muito bem, foi ágil e me encaminhou para o cirurgião oncológico. Fiz duas cirurgias e algumas sessões de quimioterapia. Tudo com muito cuidado e atenção. A recuperação foi muito tranquila. Hoje tenho uma vida normal, estou na fase de controle da doença, fazendo exames a cada 6 meses. Tive muita sorte e fui abençoada, pois Deus colocou anjos na minha vida, que fizeram toda a diferença”, comemora aliviada.
Realidade que difere de muitas mulheres brasileiras. A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) alertam para os milhares de diagnósticos de câncer que deixaram (ou deixarão) de serem feitos no Brasil durante a pandemia e estimam que possivelmente até 50 mil casos deixaram (ou deixarão) de serem identificados e tratados.
Após analisar dados do Ministério da Saúde dos períodos pré e pós-pandemia, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) observou a redução de 23,4% na realização de mamografias e biópsias de colo uterino. Esses dois exames estão entre os principais para diagnosticar esses tipos de câncer.
Ainda segundo a Febrasgo, o cancelamento e o reagendamento de consultas ginecológicas, devido à pandemia, fizeram com que o diagnóstico de câncer de mama e de colo de útero tivesse uma redução. Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), 82.870 mulheres desenvolveram essas neoplasias em 2020. No estado da Bahia, os exames de colo de útero recuaram 47,1%. Segundo estimativas do instituto, 4.450 baianas desenvolveram essas neoplasias no último ano.
“As neoplasias ginecológicas são muito frequentes no nosso meio, algumas preveníveis mesmo antes de virar um câncer como nas alterações patológicas do colo uterino devido ao HPV, bastando realizar anualmente o exame preventivo conhecido como Papanicolau”, salienta Bouzas, que também é diretor do núcleo de cirurgia oncológica do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR).
De acordo com o especialista, “a incidência do câncer de mama tende a crescer progressivamente a partir dos 40 anos, assim como a mortalidade por essa neoplasia. O risco de óbito decorrente da doença em meio às mulheres de 60 anos é dez vezes maior se comparado àquelas com menos de 40 anos de idade”.
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