Câncer de pele – O risco de deixar para depois da pandemia

A Campanha Dezembro Laranja faz um alerta para os riscos do diagnóstico tardio do câncer que corresponde a 30% de todos os tumores malignos diagnosticados no país

O primeiro diagnóstico veio de forma inesperada, um pouco antes da pandemia. Maria Dilza Reis da Rocha tinha a intenção de fazer uma cirurgia estética no seio e foi surpreendida com um câncer de pele. “O médico me disse que eu estava com um câncer de pele no rosto, mas que eu não me preocupasse, pois ele podia retirá-lo na mesma cirurgia. Eu cheguei a pensar em desistir do procedimento estético, achando que iria morrer”. Conta aliviada a aposentada de 82 anos.

Atualmente, o tratamento oncológico no país enfrenta uma série de dificuldades que deverão se estender pelos próximos anos: diagnóstico tardio de novos casos, filas maiores para procedimentos como radioterapia e piores prognósticos para quem enfrenta o câncer. Isso porque, durante a pandemia, a superlotação dos hospitais levou pacientes a atrasar ou interromper o tratamento da doença.

Não foi o caso de Maria Dilza, que superou o medo de contrair o coronavírus para manter em dia as consultas com o oncologista. “Meu diagnóstico foi antes da pandemia, mas durante esse período fui ao consultório duas vezes apenas para acompanhar o tratamento. Tive muito medo por causa da minha idade e, mas não deixo de fazer as consultas e sigo todos os protocolos de proteção”.

O câncer de pele não melanoma é o mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. A estimativa de novos casos, anualmente, no Brasil são 8.450, sendo 4.200 homens e 4.250 mulheres, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Ela é mais frequente em pessoas brancas de cabelos e olhos claros, mas também acomete em menor proporção outras etnias.

Os cânceres de pele não melanoma apesar de malignos, são menos agressivos na maior parte dos casos, e fazendo uma cirurgia oncológica tem altas chances de cura.
Já o melanoma, apesar de menos frequente, é mais agressivo. Pode aparecer em qualquer parte do corpo, na pele ou mucosas, na forma de manchas, pintas ou sinais. Nos indivíduos de pele negra, ocorre mais frequentemente nas palmas das mãos e planta dos pés. Apresenta altos percentuais de cura, se for detectado e tratado precocemente. No entanto, se diagnosticado em fases mais avançadas requer tratamentos mais agressivos e tem maior taxa de mortalidade.

Mais comum em pessoas com mais de 40 anos, explica o cirurgião oncológico André Bouzas, o câncer de pele é raro em crianças e negros, com exceção daqueles já portadores de algumas doenças cutâneas específicas que predispõe a formação dos cânceres de pele. “Porém, com a constante exposição de jovens aos raios solares, a média de idade dos pacientes vem diminuindo. Pessoas de pele clara, sensíveis à ação dos raios solares, com história pessoal ou familiar deste câncer ou com doenças cutâneas prévias são as mais atingidas”.

Muita gente sabe que é preciso evitar a exposição solar em excesso, especialmente nos horários de pico, e que “a prevenção principal se dá por meio do uso de protetor solar com filtro (principalmente), bonés, chapéus e outros meios de impedir a incidência direta dos raios do sol sobre a pele, mas mesmo assim, muitos se descuidam, expondo-se ao sol sem proteção, em qualquer horário e por muito tempo”, frisou Bouzas que também é diretor do Núcleo de Cirurgia Oncológica do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR).

Apesar de nunca gostar de sol, Maria Dilza já foi diagnosticada 6 vezes com câncer de pele. Todos foram tratados com cirurgia. “Hoje estou bem. Ano passado tirei dois cânceres de pele com dr. André Bouzas e ele foi muito atencioso, responsável e gentil comigo e, atualmente, além de meu médico de confiança também é meu amigo”.

O prognóstico desse tipo de câncer pode ser considerado bom se detectado em sua fase inicial. “Nos últimos anos, houve grande melhora na sobrevida dos pacientes com melanoma, principalmente devido à detecção precoce do tumor e à introdução dos novos medicamentos imunoterápicos”, ressalta Bouzas.

Tratamento – O tratamento do melanoma depende de uma série de características identificadas na biópsia, portanto essa deve ser realizada de forma adequada por um especialista e analisada por um patologista experiente na área. De acordo com o cirurgião oncológico, a cirurgia ainda é o tratamento mais indicado. “A radioterapia e a quimioterapia também podem ser utilizadas dependendo do estágio do câncer. Quando há metástase (o câncer já se espalhou para outros órgãos), o melanoma, hoje, é tratado com novos medicamentos, que apresentam altas taxas de sucesso terapêutico”.

A estratégia de tratamento para a doença avançada deve ter como objetivo postergar a evolução da doença, oferecendo chance de sobrevida mais longa a pacientes que anteriormente tinham um prognóstico bastante reservado. Para isso, é importante uma avaliação com oncologista que irá indicar o tratamento baseado em avaliação de mutações, como o BRAF por exemplo, decidindo pela droga mais efetiva para cada paciente. “No momento dispomos de um arsenal terapêutico muito amplo com terapias alvo e imunoterapias, uma revolução para o tratamento do melanoma nos últimos anos. Mas como sempre na oncologia, a personalização do tratamento é sempre a melhor opção”, concluiu André Bouzas.

Frente a uma suspeita de um câncer de pele, a recomendação é procurar um dermatologista, tomando os cuidados necessários para minimizar os riscos de contágio com o novo coronavírus. A demora na identificação da lesão e o tratamento tardio podem agravar o problema.

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