A primeira cirurgia robótica para tratamento de câncer de intestino na Bahia foi realizada pela equipe do cirurgião coloproctologista Carlos Ramon Mendes. A indicação da técnica para o tratamento desse tipo de tumor, também conhecido como câncer de cólon e reto ou colorretal, tem sido recorrente nos locais que contam com o robô há mais tempo. Sobretudo em situações de maior complexidade, como nos pacientes obesos e com sobrepeso e nos tumores do reto, o robô traz vantagens como a preservação dos nervos genitais e urinários. As únicas plataformas robóticas existentes no estado chegaram à Bahia este ano – a primeira no Hospital Santa Izabel (HSI) e a segunda no São Rafael (HSR).
Segundo Ramon Mendes, Diretor do Núcleo de Coloproctologia do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), a técnica é uma alternativa muito mais precisa para retirada do câncer colorretal. “Podemos utilizar a plataforma para os mesmos casos em que usamos a videolaparoscopia, com todas as vantagens da cirurgia robótica agregadas: visão tridimensional e mais nítida dão maior precisão durante o procedimento que, em geral, apresenta menos riscos de complicações e sangramentos, menor dor no pós-operatório e recuperação mais rápida para o paciente”, resumiu o especialista, que é chefe do serviço de coloproctologia do Hospital Santa Izabel, coordenador da especialidade do Hospital Cardio Pulmonar e preceptor da residência de coloproctologia do Hospital Roberto Santos.
Recorrência – O câncer colorretal, que abrange os tumores que se iniciam nas partes do intestino chamadas de cólon e reto, é o terceiro tipo mais comum de câncer em homens no mundo e o segundo em mulheres, segundo a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC, na sigla em inglês). No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados 36.360 casos, sendo 17.380 em homens e 18.980 em mulheres. Cerca de 70% dos pacientes diagnosticados com a doença têm mais de 50 anos de idade.
O câncer é tratável e, na maioria dos casos, curável, se detectado precocemente e quando ainda não se espalhou para outros órgãos. Grande parte desses tumores se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso. “Entre os principais fatores de risco para o câncer de cólon e reto estão histórico familiar; dieta rica em carne vermelha e gorduras e pobre em verduras, legumes e frutas; consumo frequente de álcool; tabagismo; doença inflamatória intestinal; obesidade e sedentarismo; histórico familiar da doença; predisposição genética ao desenvolvimento de doenças crônicas do intestino e idade avançada”, elencou o cirurgião do IBCR. Há de se considerar, ainda, que a radioterapia para câncer de próstata ou tumores ginecológicos pode ser um fator de risco para câncer de reto.
Rastreamento – Como em alguns casos o câncer de cólon e reto não apresenta sintomas, é recomendado fazer o rastreamento através do exame de colonoscopia a partir dos 45 anos ou já aos 35 anos, caso haja histórico familiar ou comportamento de risco. Quando há sintomas, os mais comuns são diarreia frequente, constipação, mudança no ritmo intestinal e no formato da fezes, presença de muco e sangue nas fezes, dor abdominal, anemia e perda inexplicada de peso. A doença tem quatro estágios, sendo que a sobrevida em cinco anos é de 75% para diagnósticos no estágio I e apenas 5% para cânceres diagnosticados no estágio IV – daí a importância do diagnóstico precoce.
Tratamento – O único tratamento que cura o câncer de cólon e reto é o cirúrgico. Nos casos do câncer de cólon, o tratamento consiste em retirar o tumor, os vasos que nutrem o tumor e os linfonodos na raiz dos vasos (mesentério). Nos casos de câncer do reto, os principais tratamentos são a ressecção do mesorreto, envolvendo ou não os músculos do assoalho pélvico. Em alguns casos, pode ser feita a quimioterapia e radioterapia pré-operatória, para reduzir o tamanho da massa tumoral e assegurar a preservação do esfíncter, poupando o paciente da chamada colostomia definitiva.
O câncer colorretal pode ser operado por via laparoscópica, que é uma forma minimamente invasiva. “Cada vez mais, porém, percebemos que a cirurgia robótica se apresenta como a opção com o maior número de benefícios associados no tratamento do câncer intestinal”, frisou Ramon Mendes.